Loucura nas redes sociais: Quem venceria uma luta entre 100 homens e 1 gorila?

A mais recente – e absurda – obsessão nas redes sociais é: quem venceria uma luta sem regras entre 100 homens e um gorila macho adulto?

Loucura nas redes sociais: Quem venceria uma luta entre 100 homens e 1 gorila?

A mais recente – e absurda – obsessão nas redes sociais é: quem venceria uma luta sem regras entre 100 homens e 1 gorila macho adulto? A pergunta sobre esta estranha hipótese tomou conta de Reddit, TikTok, YouTube e Instagram. Alguns argumentam que os humanos já caçaram mamutes e, por isso, claramente venceríamos. Outros apontam que um gorila de dorso prateado pode com facilidade levantar cerca de mil quilos e arremessar um homem adulto como se fosse uma boneca de trapos.

“Para ser honesto, não é realmente uma pergunta com necessidade de resposta – e, no entanto, como de costume na internet, todo a gente tem uma opinião”, diz Renaud Joannes-Boyau, professor australiano de Geocronologia e Geoquímica da Universidade Southern Cross, investigador financiado pelo Conselho Australiano de Investigação, pela Fundação Leakey, pela National Geographic e pelo Conselho Europeu de Investigação.

No entanto, além das piadas e dos memes, este debate ridículo oferece uma “oportunidade para refletir sobre a evolução humana”. “Quais são os verdadeiros pontos fortes da nossa espécie? O que sacrificámos? E o que um gorila, nosso primo distante majestoso, poderoso e ameaçado de extinção, pode ensinar-nos sobre a nossa própria natureza e evolução?”

Gorila e humano: dois ramos da mesma árvore evolutiva

Os gorilas são “um dos nossos parentes vivos mais próximos”. “Tal como os chimpanzés, bonobos e orangotangos, pertencem à família dos grandes símios, a família Hominidae. Os chimpanzés partilham cerca de 98,8% do seu DNA connosco, enquanto os gorilas estão logo a seguir, em segundo lugar, partilhando cerca de 98,4%“, situa Joannes-Boyau.

O último ancestral comum entre humanos e gorilas viveu “há cerca de 10 milhões de anos e é o mesmo ancestral dos chimpanzés”. Desde a cisão evolutiva, humanos e gorilas “seguiram caminhos muito diferentes”. “Os gorilas adaptaram-se a florestas densas e terrenos montanhosos, enquanto os humanos evoluíram para ambientes abertos, mas, mais realisticamente, para ambientes múltiplos e variados.”

Apesar da “diferença substancial nos nichos ecológicos”, humanos e gorilas partilham muitas características, como “polegares opositores, expressões faciais, comportamentos sociais complexos e inteligência emocional”, explica.

Domínio do poder da floresta

@idea.soup100 men vs 1 gorilla♬ original sound – Michael McBride

“Na recente saga Dune, para vencer, o Duque Leto Atreides queria desenvolver o ‘poder do deserto‘. Bem, os gorilas dominaram o poder da floresta. E sejamos claros: em termos de força bruta, o gorila vence sempre. Um gorila macho adulto pode pesar mais de 160 kg e levantar cerca de uma tonelada sem precisar de frequentar o ginásio todos os dias. A força da parte superior do corpo é impressionante – facto que não é um acidente evolutivo, mas o resultado de uma competição intensa entre machos, onde a dominância determina o acasalamento”, esclarece Renaud Joannes-Boyau.

Além disso, os gorilas são “extremamente resistentes e resilientes, mas gentis e calmos na maior parte do tempo”. Assim como muitos primatas, os gorilas possuem forte inteligência social. “Usam uma variedade de vocalizações, gestos e até mesmo tambores no peito para comunicar-se à distância”. “Demonstraram a capacidade, aliás, de usar a linguagem de sinais, lamentar os mortos e demonstrar empatia, atestando habilidades cognitivas sofisticadas.”

Trocar músculos por cérebros

Uma luta entre 100 homens e 1 gorila pode resultar em muitos mortos, “mas todos sabemos que os homens iriam utilizar armas, estratégias, drones, fogo e outros truques inteligentes”. Os humanos não são fisicamente fortes em comparação com muitos outros mamíferos. A nossa força como espécie “reside na adaptabilidade e na capacidade de colaborarmos em grupos muito grandes”.

“Os nossos cérebros são, em média, três vezes maiores, proporcionalmente, do que os dos gorilas. Esta fantástica adaptação evolutiva permitiu-nos desenvolver o pensamento abstrato e a linguagem simbólica. Mas, acima de tudo, transmitir e desenvolver conhecimentos complexos entre gerações. E esse é o nosso maior superpoder, a nossa capacidade de cooperar entre grupos vastos, muito além da unidade social média dos gorilas, que geralmente varia de alguns membros da família até um grupo de 30 indivíduos“, explica Joannes-Boyau.

A história evolutiva dos humanos levou à “troca da força bruta pela complexidade social, cultural e tecnológica, tornando-nos numa espécie mais versátil e perigosa”, a mais perigosa da Terra.

Então, quem é o vencedor?

Capacidade humana de cooperar em grandes grupos é o nosso maior ‘superpoder’

Numa luta mano a mano, “o gorila consegue fazer ‘human-mash’ com uma só mão”. “Não há comparação quando se trata de força bruta e mãos ‘nuas’.” Mas os humanos “lutam de forma suja”. “A julgar pelo nosso sucesso evolutivo, os humanos provavelmente perderiam muitas batalhas, mas, no final, venceriam a luta”, vaticina Joannes-Boyau. “Os gorilas-das-montanhas, aliás, estariam à beira da extinção na década de 1980 se não fosse a nossa ajuda.”

A espécie humana espalhou-se por todos os continentes, terrenos e climas. Remodelámos ecossistemas, caminhámos na Lua e desenvolvemos tecnologias avançadas. Mas os gorilas “são outro tipo de sucesso, enraizado na harmonia com o meio ambiente, na graça física e na força silenciosa”.

“Talvez a verdadeira mensagem não seja quem vence numa luta, mas antes perceber que dois primos muito diferentes, porém muito próximos, trilharam caminhos evolutivos distintos, cada um à sua maneira. E ambos são triunfo e conquista da natureza”, conclui Renaud Joannes-Boyau, professor australiano de Geocronologia e Geoquímica da Universidade Southern Cross, investigador financiado pelo Conselho Australiano de Investigação, pela Fundação Leakey, pela National Geographic e pelo Conselho Europeu de Investigação.

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