Enchente nunca vista em Santa Maria Maior para ver túmulo de Francisco

Milhares já foram ver o túmulo de Francisco na Basílica romana de Santa Maria Maior e há quem recuse sair depois de horas de espera, apenas para estar mais uns instantes com o seu Papa, apesar da multidão.

Enchente nunca vista em Santa Maria Maior para ver túmulo de Francisco

O interior, debruado a talha dourada funciona quase como caixa de som que diminui o barulho do exterior e os mais cansados aproveitam as cadeiras colocadas na nave principal para descansar.

É o caso de Maria Santo, uma espanhola que reza o terço a ver o túmulo de Francisco, o que “só por isso” fez valer a viagem da Corunha para Roma, na sexta-feira.

“Não pude vir mais cedo, mas hoje vim para aqui cedo e vou ficar por aqui mais um pouco”, diz, sentada numa das cadeiras mais perto do túmulo, iluminado com uma cor mais intensa que destaca o mármore branco novo.

Ao seu lado, pessoas rezam ou tentam repetir a foto do túmulo que não lhes satisfez quando passaram pelo local, empurrados pelos seguranças.

No sopé da colina onde está a única basílica papal mariana de Roma, as autoridades esticaram fitas para permitir que as filas serpenteassem o monte.

Entre os milhares que aguardavam, está João Pedro, 30 anos, vestido com uma ‘t-shirt’ do Sporting, evocando o gaúcho Anderson Polga, nascido a menos de 30 quilómetros da Argentina de Jorge Bergoglio.

João Pedro tinha marcado uma viagem para Roma, com a mãe e tias, já há alguns meses, mas a morte de Francisco alterou o roteiro previsto.

“Já fui à basílica ver o Papa e agora estou aqui. As coisas mudaram um pouco”, transformando uma visita turística numa viagem religiosa.

“Eu não sou crente, elas é que são”, disse o portuense, apontando para as familiares.

“Mas estou aqui porque quero, não estou obrigado. Porque ele [o Papa] merecia, pelo que fez, pela forma como atraiu as pessoas que não acreditam” e “pela forma como foi um exemplo para o mundo”, explicou.

Agora, quanto ao futuro de uma Igreja em que ainda não acredita, João Pedro tem receio. “Temo que haja algum recuo, porque o que ele fez foi único”, diz.

A espera de duas horas e meia afunila até uma fila indiana. Maria, funcionária da basílica, nunca viu tal enchente, aumentada depois do fim da missa que assinala o Jubileu dos Adolescentes, na praça de São Pedro, a três quilómetros e meio de distância.

“São 10 mil pessoas por hora. Todos muito respeitadores, todos em silêncio. É bonito ver isto”, observa a funcionária, enquanto orienta os voluntários e elementos da proteção civil que organizam a zona envolvente.

Já à saída da basílica, a Lusa encontrou um grupo de quatro amigos brasileiros, que chegaram a Roma depois de uma visita a Portugal.

Um deles, João Negrini Neto, explica que “por uma feliz coincidência”, já tinham marcado visita para ver a Porta Santa daquela igreja, pelo que não tiveram de esperar tanto tempo quanto aqueles que se deslocaram de propósito para observar o túmulo do Papa Francisco e estiveram na fila.

O brasileiro, acompanhado da esposa e de uns amigos, fez questão de ver o túmulo onde foi sepultado no sábado o líder da Igreja Católica, referindo que “é uma oportunidade para as pessoas comuns se despedirem dele, que representou tanto para a humanidade”.

O advogado, 42 anos, confidenciou que se arrepiou nesse momento e indicou que “realmente é uma atmosfera diferente, é uma coisa santa”.

“Há uma devoção muito grande pela figura do Papa. Tenho a certeza de que esta basílica se vai tornar num local de peregrinação, certamente daqui em diante, para a Igreja Católica e para todos os fiéis”, considerou.

Nas grades à frente da Basílica de Santa Maria Maior foram depositas algumas flores e alguns ramos e, num prédio em frente, foi colocada uma faixa de grandes dimensões, escrita em letras vermelhas com fundo branco, onde se lê “Grazie, Francesco” (obrigada, Francisco).

No interior, o destaque é mesmo o túmulo do Papa, numa das laterais da basílica, colocando num local secundário o ícone que levou o jesuíta argentino a querer ser sepultado naquele local, a imagem de Nossa Senhora denominada Salus Populi Romani, atribuída a São Lucas evangelista.

A imagem está numa das laterais da igreja vedada ao público e um dos seguranças disse à Lusa que ninguém, dos que hoje procurou a catedral, pediu para a ver.

Há duas horas na fila, a argentina Bella Deletris, 32 anos, estava quase a entrar e não se queixa do tempo de espera.

“Estamos todos a fazer o mesmo caminho”, explica, integrada num grupo de argentinos que veio de Córdova.

Estávamos a pensar vir por causa da canonização do Carlo Acutis (um ‘influencer’ que tinha a cerimónia agendada para hoje, entretanto suspensa após a morte do Papa), mas viemos na mesma. Por causa do nosso Papa”, afirmou a argentina.

“Nosso Papa é porque somos argentinos, é porque somos católicos”, afirmou, elogiando a “Igreja aberta a todos” que “trouxe tanta gente não ligava à fé” para a prática religiosa.

Para o futuro, Bella pede um sucessor que siga o exemplo de Francisco, que “se punha ao lado dos mais pobres e dos mais fracos” perante “os abusos dos poderosos”.

Sobre a nacionalidade, o grupo de argentinos não quer saber. “Até pode ser brasileiro”, disse um outro elemento, numa referência à rivalidade histórica entre a Argentina e o Brasil, no que respeita às t-shirts desportivas que envergam.

 

PJA/FM // ZO

By Impala News / Lusa

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