Penas de prisão até 66 anos para opositores do Presidente da Tunísia

Um tribunal tunisino aplicou penas até 66 anos de prisão a 40 opositores do Presidente Kais Saied, acusados de conspirarem contra o Estado, adiantaram hoje os advogados de defesa.

Penas de prisão até 66 anos para opositores do Presidente da Tunísia

Num primeiro momento, um responsável do Ministério Público citado por media locais anunciou penas entre os 13 e 66 anos de prisão para os arguidos, acusados de “conspirarem contra a segurança do Estado” e de “adesão a um grupo terrorista”.

Mas uma lista adiantada à AFP por vários advogados, “sob reserva de confirmação oficial”, dava conta de pelo menos uma mínima de quatro anos.

Os condenados podem ainda recorrer da sentença e entre eles encontraram-se políticos, antigos ministros, advogados e empresários, a maioria presa há dois anos, e os restantes em liberdade ou no exílio.

Figuras políticas como Issam Chebbi, líder do partido social-democrata Joumhouri, Jawhar Bem Mbarek, confundador da principal coligação de oposição Frente de Salvação Nacional (FNS), o ex-ministro centrista Ghazi Chaouachi e a militante de direitos humanos, Chaïma Issa, terão que enfrentar 18 anos de prisão, adiantou à AFP o advogado Abdessatar Messaoudi.

O ex-dirigente do partido Ettakatol (social-democrata), Khayam Turki, foi condenado a 48 anos de prisão, enquanto a pena mais longa, de 66 anos de prisão, foi infligida a Kamel Eltaïef, um empresário influente.

Os antigos dirigentes do partido islâmico conservador Ennahdha, Abdelhamid Jelassi e Noureddine Bhiri, foram condenados, respetivamente, a 13 e 43 anos de prisão, de acordo com a lista.

O diretor da rádio privada Mosaïque FM, Noureddine Boutar, foi condenado a 10 anos de prisão enquanto um vendedor de automóveis, Hattab Slama, vai cumprir quatro anos de prisão, porque o seu carro foi localizado perto da residência de um outro acusado.

Na sexta-feira, no decurso da última audiência do julgamento, os advogados denunciaram “uma farsa” quando o juiz apresentou se retirou para deliberar sem ouvir argumentos da acusação ou da defesa.

Os jornalistas internacionais e os diplomatas estrangeiros foram excluídos da audiência, depois de os acusados serem acusados de manter encontros com embaixadores, e a sessão decorreu sob forte vigilância policial.

Para a advogada Haifa Chebbi, filha do político Ahmed Nejib Chebbi, irmão de Issam Chebbi, condenado a 18 anos de prisão, de acordo com a lista, este é um “veredicto determinado à partida”, o que a entristece em relação “ao estado das liberdades na Tunísia”.

Entre os condenados que se encontram no estrangeiro estão o intelectual francês Bernard Henri-Lévy, condenado a 33 anos de prisão, tal como a militante feminista Bochra Belhaj Hmida, e a ex-chefe do gabinete presidencial Nadia Akacha.

Uma das pessoas julgadas por contumácia, o antigo ministro Kamel Jendoubi, denunciou um “assassínio judicial”, afirmando que esta é “uma decisão política executada por juízes às ordens, por procuradores cúmplices e um ministro da Justiça, braço armado de um autocrata paranoico”.

Depois do golpe de Estado do Presidente Kais Saied no verão de 2021, através do qual conquistou plenos poderes, ONG e opositores têm vindo a denunciar uma regressão dos direitos na Tunísia, país que lançou a Primavera Árabe em 2011.

Dezenas de políticos, advogados e jornalistas reconhecidos estão presos desde o início de 2023 na sequência de um decreto que reprime a difusão de notícias falsas, com uma interpretação muito lata.

O megaprocesso apelidado de “a conspiração” iniciou-se a 04 de março com os arguidos forçados a prestar declarações por videoconferência. Os advogados exigiram, sem sucesso, a sua presença em tribunal.

A defesa criticou um “processo vazio” e para a ONG Human Rights Watch, o processo decorreu num “contexto repressivo”, com o Presidente a “instrumentalizar o sistema judicial”.

Em fevereiro, o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou a “perseguição aos opositores”, alvo de “acusações vagas depois aparentemente terem exercido os seus direitos”.

Em resposta, o Governo tunisino disse que os processos abertos dizem respeito a “crimes de direito público sem qualquer ligação à sua atividade política, partidária ou mediática”.

IMA // VM

By Impala News / Lusa

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