Observatório Social diz que aumento da água e eletricidade em Angola carece de estudos prévios

O coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA) disse hoje que o aumento das tarifas de água e eletricidade é um “dilema” para as famílias de baixos rendimentos, e que a sua implementação carece de estudos prévios.

Observatório Social diz que aumento da água e eletricidade em Angola carece de estudos prévios

“Penso que tinha que se arranjar um meio termo, penso também que esta decisão carece de estudos prévios, com um grande envolvimento das partes interessadas, e o Estado teria que fazer um esforço de comunicar claramente aos cidadãos o que está em causa e qual seria o eventual ganho desta medida”, disse hoje Sérgio Calundungo em declarações à Lusa.

De acordo com o coordenador do OPSA, as autoridades deveriam explicar aos cidadãos as vantagens do aumento das tarifas da água e energia, salientando que o nível dos atuais serviços nesses setores “é criticável e deplorável”.

“[Com as explicações do Estado] iríamos perceber se com este aumento vamos encontrar melhorias significativas do serviço que nos é prestado”, frisou, classificando a medida governamental como “um dilema”.

As tarifas da água e da eletricidade em Angola vão aumentar 30% e 11,5%, respetivamente, segundo a nova tabela aprovada pelo regulador do setor, o IRSEA, que entra em vigor no próximo mês.

O IRSEA salienta no comunicado que a atualização das tarifas será gradual e visa cobrir o aumento dos custos de produção e distribuição, modernizar e expandir as redes nas zonas urbanas e rurais e evitar a degradação dos serviços.

A eletricidade vai sofrer um ajuste inicial de 11,5%, tendo como base uma tarifa média de 12,8 kwanzas/KWh (cerca de 0,013 cêntimos).

Sérgio Calundungo considerou que a medida das autoridades se traduz num dilema, sobretudo porque as empresas prestadoras dos referidos serviços são criticadas pela qualidade do serviço que prestam e os consumidores, por sua vez, alegam que têm vindo a perder o seu poder aquisitivo.

“Nós estamos no contexto de uma grande inflação, o poder de compra das famílias diminui e entre estas duas situações temo uma terceira variante que é a subida das tarifas da água e da eletricidade.”, disse.

As empresas, por sua vez, “alegam que não podem prestar um melhor serviço porque estão a operar numa situação em que o seu custo de produção é muito maior do que recebem dos pagamentos dos consumidores”, notou.

Calundungo, que é também membro do Conselho Económico e Social, órgão criado pelo Presidente angolano, João Lourenço, defendeu, por outro lado, um cenário da manutenção das atuais tarifas em que o Estado assume parte dos custos, observando que, neste quesito, “muitos dirão que o Estado não tem recursos”.

“Sim, mas o grande problema que se põe às vezes é que o cidadão, por um lado, ouve esta narrativa de que o Estado está sem recursos, mas depois, por outro, somos todos os dias bombardeados com o Estado a fazer despesas que não são uma prioridade”, criticou.

Aludiu ainda aos custos da possível vinda da seleção argentina de futebol, campeã mundial, para defrontar a seleção angolana, no âmbito das celebrações dos 50 anos de independência de Angola, como “gastos públicos não prioritários”.

Insistiu que a decisão da subida das tarifas da água e eletricidade no país, carece de maior fundamentação por parte do Governo, admitindo que o Estado angolano “tem margem fiscal para diminuir despesas em setores menos prioritários”, e garantir “estes dois bens essenciais para o funcionamento da nossa economia e para o bem-estar das famílias”, concluiu o também analista social.

Segundo as estimativas do IRSEA uma família na categoria Doméstica Social I (que beneficiam de desconto na fatura) com potência contratada de 1,3 KVA, que pagava em média 291,88 kwanzas) passará a pagar 379,68 kwanzas (passam de 28 para 38 cêntimos).

Quanto à àgua, a tarifa terá um ajuste inicial de 30% (tendo em conta uma tarifa média de 780 kwanzas ou 78 cêntimos/m3), com um reajuste faseado, “mantendo a subvenção aos produtos químicos essenciais para o tratamento”.

DAS (RCR) // ANP

Lusa/Fim

By Impala News / Lusa

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