LGBTIQ em Timor-Leste enfrentam violência e discriminação, mas há progressos, diz ONG
A comunidade LGBTIQ de Timor-Leste continua a enfrentar violência, discriminação e a sofrer de desigualdades económicas, apesar de terem sido registados progressos na aceitação social e saúde, segundo um estudo realizado pela Associação Arco-íris.

No estudo, enviado à Lusa e realizado entre 2023 e 2024, salienta-se que foram feitos alguns “progressos na aceitação social” com 67,1% das famílias a aceitarem membros LGBTIQ, apesar de ainda haver 7,6% de rejeição completa e 6,3% que “explicitamente não reconhecem a identidade de género dos seus familiares”.
Mas, aquele progresso não impediu que 62% dos elementos da comunidade tenham relatado “assédio verbal, físico e exclusão social” nos últimos 12 meses.
Segundo o documento, 31% experienciaram ameaças ou intimidação física dentro da própria família, 16,1% foram ameaçados com violência física, dos quais 10,3% sofreram agressões graves.
Para a Arco-íris, uma organização não-governamental de defesa dos direitos da comunidade LGBTIQ, é preciso “fortalecer a proteção legal através da aplicação de lei anti-discriminação e a prestação de assistência jurídica às vítimas de violações de direitos” e aumentar a consciencialização pública para combater o estigma e a discriminação.
“Uma forma agressiva de masculinidade hegemónica, combinada com atitudes negativas em relação à homossexualidade promovidas pela igreja católica, reforça a necessidade urgente de combate à intolerância sustentada por forças conservadoras”, salienta-se no estudo, em que se defendem também políticas mais inclusivas.
Em relação à saúde, a Associação Arco-íris destaca que 67,7% da comunidade se sente “confortável ao aceder aos serviços médicos”, o que demonstra que existe um “esforço em curso para tornar os serviços de saúde mais inclusivos”.
“Embora o número dos que se sentiram discriminados seja menor, a sua existência continua a refletir que ainda persistem barreiras no acesso aos serviços de saúde”, pode ler-se no estudo, que propõe um acesso mais inclusivo e a criação de centros de saúde amigáveis à comunidade LGBTIQ.
No estudo alerta-se que os problemas de saúde mental são um “desafio sério”, com 51% dos membros da comunidade a relatar tristeza, 31% a dizer que perdeu a esperança e 20% a sentir que não tem valor.
“Este sofrimento emocional é agravado pela falta de apoio social. Apenas 27,3% procuraram ajuda emocional e 30,3% optaram por não falar com ninguém sobre as suas dificuldades”, pode ler-se no documento.
Em relação ao bem-estar económico, 48,4% da comunidade vive com rendimentos inferiores a 100 dólares (cerca de 88 euros) mensais e apenas 16,1% recebe mais de 150 dólares (cerca de 132 euros).
“Até 22,6% relataram ter passado fome por falta de dinheiro para comprar comida, 9,7% não têm um local seguro para dormir e 12,3% não conseguem pagar despesas médicas”, refere o estudo.
Para a associação, aqueles dados revelam uma “disparidade social e económica significativa que precisa de ser urgentemente resolvida”.
Apesar de algumas melhorias registas, a Associação Arco-íris considera que a “violência, a discriminação, o sofrimento mental e as desigualdades económicas são problemas graves que precisam de ser resolvidos”.
“Com uma consciencialização crescente e esforços conjuntos entre diferentes partes interessadas, existe esperança de criar um ambiente mais justo e digno para todos, incluindo para a comunidade LGBTIQ”, acrescenta-se no estudo.
MSE // VM
By Impala News / Lusa
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