Governo turco continuará operações contra PKK “até que a região esteja limpa”
O exército turco prosseguirá as suas operações contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) “até que a região seja limpa”, declarou hoje o Ministério da Defesa, após o anúncio, segunda-feira, da dissolução do grupo armado curdo.

As atividades do exército de Ancara “nas zonas utilizadas pela organização terrorista separatista PKK [que atua principalmente no norte do Iraque) continuarão com determinação até que se tenha a certeza de que a região foi limpa e que já não constitui uma ameaça para o país”, declarou um porta-voz do ministério, numa conferência de imprensa.
Segundo uma fonte do ministério, os serviços secretos turcos irão supervisionar a recolha das armas do PKK, com a cooperação das forças iraquianas e sírias, mas sem a participação de observadores internacionais da ONU.
O exército turco mantém dezenas de posições no Curdistão autónomo do Norte do Iraque, a partir de onde conduz há anos operações terrestres e aéreas contra o PKK, que foi obrigado a retirar-se.
Ancara, que comunica regularmente a morte de soldados na região, vai continuar a efetuar inspeções e a destruir abrigos, grutas e armas utilizadas ou pertencentes ao grupo armado curdo, acrescentou o porta-voz do Ministério da Defesa.
Terça-feira, um dia depois do anúncio oficial da dissolução do PKK, o partido pró-curdo DEM apelou para a aplicação de “medidas de confiança” pelo Governo turco.
“Esperamos que os governantes assumam os deveres e as responsabilidades” antes da festa muçulmana do Eid al-Adha, no início de junho, afirmou o copresidente do Partido para a Igualdade e Democracia do Povo (DEM, antigo HDP — Partido Democrático dos Povos), a principal força política pró-curda da Turquia.
Tuncer Bakirhan apelou para a adoção de “medidas de confiança, concretas e humanitárias, antes do início do Eid al-Adha”, que seria então “celebrado duplamente”.
A libertação dos presos políticos doentes e a melhoria das condições de detenção do fundador e líder histórico do PKK, Abdullah Öcalan, preso em regime de isolamento desde 1999, devem ser algumas das primeiras medidas, sublinhou Bakirhan aos jornalistas.
“Algumas coisas podem ser feitas antes de serem tomadas medidas legais. Por exemplo, as condições prisionais de Öcalan. Penso que as autoridades podem dar alguns passos para que a sociedade, que tem dúvidas e preocupações, possa acreditar plenamente neste processo”, acrescentou.
Numa curta mensagem publicada também terça-feira, Öcalan “saudou respeitosamente” a dissolução do grupo armado curdo, sem, porém, fazer qualquer exigência a Ancara.
No entanto, fonte curda próxima do PKK no norte do Iraque, onde estão baseados os combatentes do movimento, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) que o grupo armado está à espera de “medidas concretas” das autoridades turcas, incluindo uma amnistia para os combatentes e a libertação de presos políticos, como a de outro líder curdo, Selahattin Demirtas, detido desde 2016.
Segundo a fonte citada pela AFP, os combatentes “não deixarão as montanhas e não se desarmarão imediatamente” pelo que o PKK também espera, a prazo, uma emenda à Constituição turca que garanta direitos específicos aos curdos.
O PKK anunciou na segunda-feira a dissolução e o fim de mais de quatro décadas de luta armada contra o Estado turco, que custou mais de 40.000 vidas.
Os dirigentes do DEM e o grupo armado têm afirmado repetidamente que o Governo do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deve responder com medidas legislativas para garantir o sucesso do processo de paz.
O PKK declarou que a dissolução “constitui uma base sólida para uma paz duradoura e uma solução democrática” e fez um apelo para o Parlamento turco: “Nesta fase, é importante que a Grande Assembleia […] desempenhe o seu papel perante a história”.
JSD // APN
By Impala News / Lusa
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