Governo moçambicano diz que crime de rapto é complexo e cria fuga de capitais
O ministro do Interior de Moçambique admitiu hoje que o crime de rapto é complexo, organizado e transnacional, e propicia a fuga de capitais, além de criar sentimentos de “insegurança”, apelando à sociedade para denunciar suspeitos de envolvimento.

“O rapto é um crime organizado e transnacional, o seu ‘modus operandi’ é complexo e afeta a sociedade no sentido de que cria um sentimento de insegurança generalizada na sociedade. Afeta toda gente. Quando há um rapto toda a gente se preocupa, não apenas os familiares, os próximos da vítima, mas todos os membros da sociedade”, disse o ministro do Interior, Paulo Chachine, no parlamento, onde o Governo responde, pelo segundo dia, a perguntas dos deputados.
“Afeta a nossa economia, cria fuga de capitais e retrai investimentos”, acrescentou o governante, referindo que uma das saídas para estancar este tipo de crime é a criação da unidade de prevenção e combate ao crime organizado e transnacional.
O ministro do Interior defendeu que a unidade a ser criada deverá ter meios e recursos humanos, devendo contar com a cooperação de organizações regionais e internacionais com experiência no combate aos raptos, cujo objetivo é acabar com este tipo legal de crime em Moçambique.
“Há outra componente importante que é o envolvimento da comunidade (…) é preciso que a comunidade se envolva no combate à criminalidade, no combate aos raptos. Vamos denunciar os criminosos, os raptores e todos os que se envolvem em práticas criminais”, apelou Chachine.
A polícia moçambicana registou desde 2011 a março deste ano pelo menos 205 crimes de rapto, disse quarta-feira o Governo, que admite “desafios” para travar estes acontecimentos.
Segundo dados apresentados pelo ministro de Interior de Moçambique, Paulo Chachine, em 2013 registou-se o pico dos crimes de raptos, com 37 casos, 2014 com 20 raptos, 2015 com 17, em 2020 registaram-se 16, e em 2016 e 2024 15 casos cada.
Em conexão com os casos, a polícia moçambicana deteve pelo menos 302 pessoas, tendo sido desativados diversos locais usados como cativeiros e apreendidas armas de fogo, incluindo bens móveis e imóveis.
“As províncias mais afetadas por este tipo de crime foram a cidade de Maputo com 133 casos, e seguidamente as províncias de Maputo e Sofala com 48 e 09 casos, respetivamente”, disse Paulo Chachine.
Só desde janeiro de 2024 a março do ano em curso, adiantou o governante, foram registados 19 crimes de rapto consumados, dos quais 15 esclarecidos com a detenção de 33 pessoas e apreensão de pelo menos 12 armas de fogo, 12 viaturas, 28 telemóveis, dois computadores e quatro residências usadas como cativeiros.
“Não obstante os resultados operativos alcançados, prevalecem desafios para o esclarecimento célere dos casos com vista a consolidar o sentimento de segurança na sociedade moçambicana e assegurar um ambiente favorável para o investimento nacional e estrangeiro”, admitiu o governante.
Desde 2011, uma onda de raptos afeta Moçambique e as vítimas são, sobretudo, empresários e os seus familiares, principalmente pessoas de ascendência asiática, um grupo que domina o comércio nos centros urbanos das capitais provinciais no país.
Cerca de 150 empresários foram raptados em Moçambique nos últimos 12 anos e uma centena deixou o país por receio, segundo números divulgados em julho pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique, que defendeu que é tempo de o Governo tomar medidas.
A maioria dos raptos cometidos em Moçambique é preparada fora do país, sobretudo na África do Sul, disse, em abril de 2024, no parlamento, a então procuradora-geral da República, Beatriz Buchili.
PME // ANP
By Impala News / Lusa
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