Talibãs detêm arbitrariamente homens pela aparência e comportamento no Afeganistão

A Missão de Assistência da ONU no Afeganistão (UNAMA) documentou num relatório hoje publicado casos de detenções arbitrárias por suposta violação da Lei de Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, uma interpretação estrita da lei islâmica, a Sharia.

Talibãs detêm arbitrariamente homens pela aparência e comportamento no Afeganistão

“A UNAMA constatou que, nos primeiros seis meses de aplicação da lei (denominada PVPV pela ONU), mais de metade das detenções arbitrárias relacionadas com esta lei está ligada à aparência dos homens”, especifica o relatório.

As detenções arbitrárias foram efetuadas porque as barbas dos detidos não tinham o comprimento exigido ou porque os seus penteados não estavam em conformidade com as normas. Também foram detidos barbeiros.

Além disso, as autoridades responsáveis pela aplicação da lei alegaram a falta de comparência à oração congregacional ou a prática de atividades puníveis por lei, como ouvir música, tirar fotografias ou fazer vídeos.

Segundo a ONU, as pessoas foram detidas por períodos até três dias em instalações do Ministério da Propagação da Virtude e da Prevenção do Vício e em contentores utilizados pela mesma instituição.

O relatório da UNAMA documentou casos em que as pessoas foram detidas em celas da polícia e em instalações prisionais.

A ONU observa que a lei confere “amplos poderes” aos chamados “inspetores de facto”.

Cerca de 3.300 inspetores em 28 das 34 províncias do Afeganistão asseguram o cumprimento da lei promulgada pelos talibãs e duramente criticada por diferentes atores internacionais, que consideram que estas medidas draconianas reforçam o clima de medo e de autocensura no país, bem como os poderes das autoridades ‘de facto’ que governam Cabul desde agosto de 2021.

A 27 de março, o líder supremo dos talibãs, o mullah Haibatullah Akhundzada, instou todas as partes a absterem-se de interferir nos assuntos internos do Afeganistão e a não se tornarem um obstáculo à estabilidade, à segurança e ao progresso do país em termos de estabilidade, segurança e progresso.

A lei sobre o vício impõe grandes restrições à conduta dos cidadãos afegãos, especialmente das mulheres e raparigas, que são obrigadas a usar o véu e a estar sempre acompanhadas por um “mahram”, ou seja, um acompanhante masculino.

Segundo as consultas trimestrais das Nações Unidas, a aplicação da lei nos últimos seis meses “restringiu ainda mais a vida e as atividades quotidianas das mulheres e das raparigas”, já muito limitadas desde a chegada ao poder dos fundamentalistas.

De acordo com os dados da ONU, a lei aumentou as restrições ao acesso das mulheres ao espaço público, à educação das raparigas, ao vestuário e ao acesso a oportunidades de emprego.

 

JSD // SCA

By Impala News / Lusa

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