Mostra antológica de Rui Moreira contra aceleração do tempo e filmes de Ana Léon no MAAT
A primeira exposição antológica do artista Rui Moreira, com 80 obras, e um conjunto de filmes de Ana León abrem hoje a nova temporada do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa.

“Transe”, de Rui Moreira, e “Gestos”, com seis filmes recentes de Ana Léon, a inaugurar hoje no MAAT Central, dão título às duas exposições que têm em comum um trabalho “minucioso e exaustivo”, segundo o diretor artístico, João Pinharanda.
Em “Transe”, primeira antológica do artista nascido no Porto, em 1971, são reunidas obras em desenho e pintura sobre papel, de médio e muito grande formato, resultado de um processo de trabalho que revela “grande intensidade, num trabalho de execução lento e profundo”.
“Estão aqui obras que demoraram mais de mil horas a criar”, comentou Rui Moreira durante uma visita para jornalistas antes da inauguração prevista para hoje à noite, com a abertura ao público a acontecer na quarta-feira.
O artista — cuja obra é inspirada na literatura, no cinema e nas tradições populares orais – diz-se totalmente adepto da lentidão: “Eu tento mexer no tempo e não acredito na velocidade. Só na lentidão se pode fazer e ver arte”.
“Tudo o que eu faço é contra a aceleração absurda do nosso tempo, contra a dispersão e a favor da concentração”, acrescentou, durante o percurso pelas obras marcadas por cores contrastantes, usando frequentemente o negro, vermelho ou azul em fundo branco.
A obra de mais de vinte anos de Rui Moreira é também muito orientada pelas viagens e explorações, durante as quais experimenta e recupera as perceções físicas dos lugares que visita, como aconteceu no deserto de Marrocos, a nascente do Ganges, a selva amazónica ou a região de Trás-os-Montes, onde captou os Caretos de Carnaval.
O transe — que dá título à antológica — “tem a ver com a repetição, com o não parar, com o que vem depois do cansaço extremo, quando se passa para lá do esforço e não se sente nada”, explicou Rui Moreira aos jornalistas.
Algumas das obras da exposição são inspiradas na arte islâmica, uma expressão artística que conheceu sobretudo em Marrocos e que fez questão de explorar “para dar a conhecer uma antiga herança cultural portuguesa que é praticamente ignorada nas escolas”.
Moreira colabora com a Galeria Jeanne Bucher Jaeger desde 2008 e em 2014 o museu de arte moderna Mudam Luxembourg apresentou uma ampla exposição da sua obra intitulada “I am a lost giant in a burnt forest” (“Sou um gigante perdido numa floresta queimada”, em tradução livre), três anos depois apresentada no Centro Internacional das Artes José de Guimarães, em Portugal.
Fruto de um protocolo entre o MAAT e o Centro Cultural Graça Morais, parte de “Transe” será apresentada em Bragança, a partir de 05 de julho.
Na Sala do Cinzeiro do MAAT Central é inaugurada também a exposição “Gestos”, da artista Ana Léon, nascida em Lisboa, em 1957, com seis filmes de animação em ´stop motion´, nos quais recria o movimento dos corpos de bonecos articulados.
Léon trabalha em paralelo o desenho e o filme, usando tecnologia analógica, através de película e uma máquina de filmar Super8, preferindo criar obras em linguagens de grande simplicidade e austeridade de meios, que “criam uma atmosfera intensa” quando exibidos em salas escurecidas.
Nestas obras surgem figuras masculinas inexpressivas com cerca de 25 centímetros de altura, sempre mostradas em “plano americano”, em movimentos repetitivos e em ´loop´ dando uma sensação de despersonalização.
À Lusa, a artista disse que, nas suas obras, “o som é tão importante como a imagem”, pelo que faz prolongadas pesquisas na Internet em busca das sonoridades ideais para os seus trabalhos.
“Transe”, de Rui Moreira, e “Gestos”, de Ana Léon, vão estar patentes no MAAT Central até 02 de julho.
AG // TDI
By Impala News / Lusa
Siga a Impala no Instagram