Festival IndieLisboa com mais uma edição “que tenta responder ao contemporâneo”

Um festival de cinema “que tenta responder ao contemporâneo” e “reinventar formas de trazer o público às salas” é como a programadora Susana Rodrigues descreve à Lusa o IndieLisboa, nas vésperas de começar a 22.ª edição.

Festival IndieLisboa com mais uma edição

O Festival Internacional de Cinema IndieLisboa começa na quinta-feira e prolongar-se-á até ao dia 11 em várias salas da capital, com quase 240 filmes, uma generosa presença de cinema português e um foco na vertente profissional.

Susana Rodrigues, uma das diretoras e programadoras do festival, explicou à agência Lusa que a cada ano vai sendo construída uma narrativa de programação à medida dos filmes que recebem e visionam e das temáticas nele inscritas.

“Continua a ser o festival que não se concentra em nenhum género ou formato, continua a fazer jus ao facto de dar igual importância a curtas e longas, a documentário, ficção, animação, experimental, ensaio. É a característica mais distintiva”, disse, tendo ainda em mente os princípios que norteiam o festival, de mostrar novos realizadores e filmes que não passam nos circuitos comerciais.

O IndieLisboa abrirá no cinema São Jorge com a comédia do absurdo “Une Langue Universelle”, do realizador canadiano Matthew Rankin, que imagina um Canadá onde todos falam persa. O filme foi escolhido pelo Canadá para a corrida aos Óscares.

O fecho do festival será com “Caught by the tides”, do realizador chinês Jia Zhang-ke, sobre uma bailarina e um duvidoso produtor de música, tendo uma China como pano de fundo ao longo de duas décadas.

Entre estes dois filmes há dezenas de propostas, repartidas por secções competitivas, como as competições nacional, internacional e Novíssimos, e retrospetivas, nomeadamente a que é dedicada à realizadora búlgara Binka Jeliaskova.

O IndieLisboa apontará ainda o foco ao artista britânico Charlie Shackleton, que estará em Lisboa para apresentar os seus filmes, incluindo “Paint Drying”, obra experimental e de protesto contra a entidade britânica que atribui e cobra pela classificação de filmes.

“Paint Drying”, um plano estático de uma parede de tijolo pintada de fresco, tem dez horas de duração, e vai ser projetado na Sala Rank, do cinema São Jorge, usada durante o Estado Novo para censura prévia aos filmes.

Destaque ainda para a presença do realizador chinês Wang Bing, a propósito da exibição da trilogia “Youth” e de uma sessão de conversa com o público.

“Youth” é um documentário de observação dividido em três filmes — “Spring”, “Hard Times” e “Homecoming” — que acompanha jovens trabalhadores do setor têxtil, que todos os anos migram para fábricas na cidade chinesa de Zhili.

Haverá ainda cinema para ver dentro da piscina municipal da Penha de França e a maratona de madrugada “Boca do Inferno”.

“Temos temáticas desde traumas geracionais, questões familiares, morte, luto. […] Tentamos fazer um trabalho específico em relação a tentar criar uma experiência, em tentar reinventar formas de trazer o público às salas, de falar com eles, de criar um espírito de comunidade, falar sobre os filmes, fazer alguma reinvenção que nos divirta a nós próprios também”, descreveu Susana Rodrigues.

A competição nacional apresenta dez longas-metragens, um número inédito no festival, e 16 curtas-metragens, além de existir uma presença maior de filmes portugueses no conjunto da programação. Alguns dos filmes estão em estreia nacional depois de terem passado pelo circuito de festivais estrangeiros, e outros em primeira exibição.

Em estreia mundial estarão “A vida luminosa”, primeira longa-metragem de ficção de João Rosas, ou as curtas-metragens “Um dia, depois outro”, de Catarina Romano, e “Antígona ou a história de Sara Benoliel”, de Francisca Mira Godinho.

A eles juntam-se o já premiado “Hanami”, da luso-cabo-verdiana Denise Fernandes, “Duas vezes João Liberada”, de Paula Tomás Marques, ou “Pai Nosso — Os últimos dias de Salazar”, de José Filipe Costa.

“Não sei se é uma consequência de um certo tempo de pausa e gestação durante a pandemia, mas a verdade é que deixámos vários filmes de fora que poderiam e mereciam estar no programa”, disse Susana Rodrigues, a propósito do aumento de filmes portugueses.

Da competição nacional foi retirado “Balane 3”, do realizador Ico Costa, e um projeto por ele produzido, depois de denúncias sobre casos de violência doméstica, que o cineasta negou e considerou falsas.

Em comunicado divulgado na semana passada, a direção do IndieLisboa explicou que tomou a decisão na sequência da divulgação de uma carta aberta por uma das alegadas vítimas de violência num relacionamento com o realizador e “face ao surgimento de novas denúncias”.

“A situação exige integridade e responsabilidade social, princípios que regem o nosso código de conduta. Somos profundamente sensíveis a denúncias de violência e temos consciência de que o contexto social e legal da violência de género é, muitas vezes, revitimizante na forma como trata quem denuncia”, escreveu a direção do IndieLisboa.

Toda a programação do IndieLisboa está disponível em indielisboa.com.

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By Impala News / Lusa

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