Como será eleito o próximo papa e o que acontece no conclave

Como funciona e quem pode votar para eleger o novo papa, em conclave? Mathew Schmalz, professor de Estudos Religiosos, guia-nos pela viagem da eleição do sucessor de Francisco.

Como será eleito o próximo papa e o que acontece no conclave

Após a morte do papa Francisco, as atenções voltam-se agora para a escolha do sucessor. O próximo papa será escolhido num conclave, palavra latina que significa “sala que pode ser trancada” ou, mais simplesmente, “sala fechada”, explica Mathew Schmalz, professor de Estudos Religiosos da Universidade da Sagrada Cruz.

Os membros do Colégio Cardinalício votarão de portas trancadas na Capela Sistina do Vaticano, famosa por pelos frescos no teto pintados por Miguel Ângelo. Distinguidos pelas vestes escarlates, os cardeais são escolhidos por cada papa para eleger os seguintes chefes da igreja católica. Um cardeal deve ter menos de 80 anos para poder votar no conclave. Dos 252 membros do Colégio Cardinalício, 138 são atualmente elegíveis para eleger o novo papa. “Como estudioso do catolicismo global, estou especialmente interessado em saber como este será o conclave mais diverso na história da Igreja Católica”, afirma Schmalz.

Durante séculos, o Colégio Cardinalício foi dominado por europeus – italianos, em particular. A primeira vez que um cardeal não europeu votou num conclave aconteceu apenas no século XX, quando o arcebispo de Baltimore, James Gibbons, votou na eleição papal de 1903. Atualmente, o Colégio Cardinalício conta com membros de mais de 90 países, dos quais Francisco nomeou quase 80%.

Realizar um conclave para eleger um papa é uma tradição de séculos. A prática foi estabelecida em 1274, sob o Papa Gregório X, em reação ao caos em torno da sua própria eleição, que durou quase três anos. A tradição é antiga, mas os resultados podem ser surpreendentes, como quando o próprio Francisco foi eleito em 2013 como o primeiro papa não europeu em quase 1.300 anos e o primeiro jesuíta da história a assumir o cargo.

O início do conclave

Antes do conclave, o Colégio Cardinalício reúne-se nas “congregações gerais” para discutir questões enfrentadas pela Igreja. Estas congregações gerais serão também uma oportunidade para novos cardeais se conhecerem, principalmente os que chegam de localizações geográficas distantes. Trata-se, também, “de um momento propício para à politicagem.”

No passado, havia rumores de que “a politicagem incluía subornos em troca de votos, como alegado na eleição de Alexandre VI , um papa Bórgia, em 1492”, assinala o professor de Estudos Religiosos. “Hoje em dia, é considerado má educação – e azar – um cardeal fazer lobby para si mesmo como candidato. Comprar votos através de dinheiro ou de favores a cardeais “é ‘simonia’, e contrária à lei da Igreja”.

Duas a três semanas após o funeral papal, o conclave começa. Os cardeais farão primeiro uma procissão até à Capela Sistina, onde dispositivos eletrónicos de bloqueio serão instalados para impedir espionagem e o uso de Wi-Fi e telemóveis. Ao entrarem na capela, os cardeais cantam, em Latim, o hino Vem, Espírito Santo. Depois, fazem o voto, sobre um livro dos Evangelhos, de manter os procedimentos do conclave em segredo.

Depois destes rituais, o Mestre das Celebrações Litúrgicas Papais dirá em voz alta, e em Latim, “Extra Omnes”, que significa “Todos Fora”. As portas da Capela Sistina serão trancadas e terá início o conclave.

O processo de votação

Os cardeais que elegem o papa serão sentados em ordem de hierarquia. Por norma, o decano do Colégio Cardinalício ocupa o primeiro lugar. O atual decano – Cardeal Giovanni Battista Re – já ultrapassou no entanto a idade mínima para votar e não participará no conclave. Em vez disso, “a eleição papal será liderada pelo secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin”, explica Mathew Schmalz.

Quando os cardeais estiverem reunidos, “serão escolhidos nove, aleatoriamente, para conduzir a eleição”. “Três deles serão os escrutinadores que examinarão os boletins de voto e os lerão em voz alta.”

boletim de voto do conclave
Um boletim de voto usado no Conclave Papal de 2013 [Tktru via Wikimedia Commons , CC BY-NC-SA]
Depois de anotarem o nome do candidato escolhido, os cardeais levam os boletins de voto à frente da capela e colocam-nos num colocado sobre uma urna, diante dos escrutinadores. Usando o prato para depositar a cédula na urna, dizem “Invoco como testemunha Cristo, o Senhor, meu juiz, de que o meu voto será dado àquele que, diante de Deus, considero que deve ser eleito”.

Um novo papa é apenas eleito pela maioria de dois terços. Se esta maioria não for alcançada na primeira votação, os boletins de voto serão queimados num forno. O fumo negro que sobe pela chaminé da Capela Sistina sinaliza ao exterior que a eleição está em andamento, tradição que começou com a eleição de Bento XV. em 1914. São usados aditivos químicos ​​para garantir que o fumo seja negro, pois, durante a eleição de João Paulo II, houve confusão sobre a cor do fumo.

Após o primeiro dia – e nos dias subsequentes – haverá “até quatro votações por dia”, caso não seja alcançada maioria de dois terços. Tanto Bento XVI quanto Francisco foram eleitos após relativamente poucas votações: quatro no caso de Bento; cinco no de Francisco. De acordo com as regras estabelecidas por Bento, se um novo papa não for escolhido após 13 dias, haverá um dia de oração e reflexão. Em seguida, “a eleição será entre os dois candidatos mais votados, um dos quais deve obter maioria de dois terços”.

Esta nova regra, “sugerem alguns comentadores, poderia levar a um conclave mais longo, ou até mesmo a um impasse, por ser menos provável que surja um candidato de compromisso”.

A Sala das Lágrimas

Os conclaves são geralmente curtos, como a eleição de três escrutínios que escolheu o Papa Pio XII, em 1939. Em algumas ocasiões, “as deliberações foram bastante longas – a mais longa foi a do conclave papal de 1740, que elegeu Bento XIV e durou 181 dias.

Independentemente do prazo, contudo, será eleito um novo papa. Assim que um candidato receber votos suficientes, será questionado. “Aceita a sua eleição canónica como Sumo Pontífice?”. Ao dizer “Accepto” – ou “Aceito” – torna-se no novo líder da Igreja Católica. Agora, sim, os boletins de voto serão queimados para criar fumo branco, que informará o mundo de que o conclave terminou e que foi escolhido um novo papa.

Assim que é eleito, o novo papa decide o seu nome, como Jorge Maria Bergoglio fez quando foi o primeiro papa a escolher o nome Francisco. A escolha de um nome – especialmente de um predecessor imediato – “indica frequentemente a direção do pontificado do novo papa”. No caso de Francisco, o seu nome homenageia São Francisco de Assis, místico do século XIII conhecido pela sua simplicidade e amor pela natureza.

O novo papa é então conduzido à “Sala das Lágrimas”. Nesta sala, junto à Capela Sistina, “terá momentos para refletir sobre os fardos da sua posição, que muitas vezes levaram novos papas às lágrimas”. Vestirá uma batina branca e outros símbolos do seu ofício. A sua eleição será anunciada a partir da varanda da Basílica de São Pedro e terá começado um novo pontifício.

The Conversation

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