Câmara de Lisboa começou a plantar jacarandás na Av. 5 de Outubro mas contestação mantém-se
A Câmara de Lisboa começou hoje a plantar jacarandás na Avenida 5 de Outubro, depois de ter iniciado na quinta-feira a transplantação de 20 árvores desta espécie, além de prever o abate de 25, para construção de estacionamento subterrâneo.

Fonte do gabinete do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas (PSD), confirmou à Lusa que estão hoje a ser plantados jacarandás na Avenida 5 de Outubro, um dia depois de terem começado os “trabalhos preparatórios” para transplantação de árvores desta espécie.
Antes desta confirmação por parte da câmara, fonte da Junta de Freguesia de Avenidas Novas, presidida por Daniel Gonçalves (PSD), disse à Lusa que foi “apanhada de surpresa” com a plantação de jacarandás na Avenida 5 de Outubro, desde as 10:00 de hoje, afirmando que não houve qualquer aviso por parte do executivo municipal.
Relativamente a todo o processo de remoção de 47 árvores na Avenida 5 de Outubro, em que se inclui o abate de 25 jacarandás, a Junta de Freguesia de Avenidas Novas recusou, para já, pronunciar-se publicamente.
Na manhã de hoje, o Movimento de União em Defesa das Árvores (MUDA) esteve na Avenida 5 de Outubro, onde colocou faixas de protesto contra o abate de jacarandás, em que se podia ler, por exemplo, “a CML tem de parar de matar árvores”.
Como porta-voz do MUDA, Rui Mourão explicou que o apelo dirigido à CML se aplica às várias situações de desrespeito pelas árvores da cidade de Lisboa, além do que está a acontecer com os jacarandás.
“Pela cidade toda há caldeiras vazias, árvores a serem cortadas, sem apresentação de relatórios fitossanitários, portanto este problema que está nesta avenida é mais largo, é na cidade toda, há uma verdadeira matança de árvores”, afirmou Rui Mourão.
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do MUDA ressalvou que o problema “não é só” do executivo de Carlos Moedas (PSD), porque o mesmo acontecia no anterior mandato presidido por Fernando Medina (PS), considerando que “há muito pouco cuidado com as árvores na cidade e, por isso, tão facilmente são abatidas”.
“Muitas vezes aparece essa ideia de compensação, que é uma falsa compensação, que é matar uma árvore de grande porte e ‘substituir’, porque não é substituível, por uma jovem que não faz o mesmo, não tem o mesmo valor ecológico que uma árvore grande, de captura de carbono, produção de oxigénio, sombreamento, portanto na questão climática”, expôs, criticando a transplantação de jacarandás numa altura de nidificação das aves, o que “prejudica a vida e a reprodução de pássaros”.
Para o MUDA, além de toda a problemática em termos ambientais, climáticos, de qualidade de vida e identidade biocultural da avenida e da cidade, “houve irregularidades processuais graves da parte da CML”, nomeadamente quanto ao regime jurídico de gestão do arvoredo urbano (lei 59/2021), ao regulamento municipal de gestão do arvoredo de Lisboa, o guia de boas práticas do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a fundamentação oficial da autorização da própria CML para o abate e transplante dos jacarandás.
O MUDA conta estar presente nas sessões públicas de esclarecimento promovidas pela câmara, agendadas para hoje às 18:30 e quarta-feira às 17:30, no Centro de Informação Urbana de Lisboa, mas afirma que “é muito grave” que aconteçam após terem começado a retirada de árvores na Avenida 5 de Outubro.
Neste eixo da Avenida 5 de Outubro, no centro de Lisboa, segundo informação da câmara, há 75 jacarandás, dos quais 30 serão mantidos, 20 serão transplantados (a que se juntarão dois plátanos) e os restantes 25 serão abatidos. Simultaneamente, serão replantados 39 jacarandás, a que se juntarão 49 outras árvores.
Em questão está a construção de um parque de estacionamento subterrâneo, no âmbito da operação urbanística de Entrecampos, nos antigos terrenos da Feira Popular.
Contra este processo, a petição “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro”, criada na sexta-feira, 21 de março — Dia da Árvore, reúne hoje mais de 51.500 assinaturas.
Na quinta-feira, após uma reunião com a câmara municipal e o promotor do projeto urbanístico de Entrecampos, um grupo de peticionários contra o abate de jacarandás disse que “não houve qualquer abertura” para alterar os planos previstos.
A este propósito, a Iniciativa Liberal (IL) na Assembleia Municipal de Lisboa requereu a “audição urgente” da câmara na 4.ª Comissão Permanente — Ambiente e Estrutura Verde, para “esclarecimento cabal da polémica” em torno da remoção de jacarandás na Avenida 5 de Outubro. Esse pedido de audição carece ainda de aprovação por parte da própria comissão.
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By Impala News / Lusa
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