A ligação entre a Natureza e o bem-estar humano tem sido alvo de amplos estudos e novas investigações demonstram que a exposição a ambientes naturais “pode reduzir diretamente as dores“. Um estudo publicado na revista Nature Communications revela que “olhar para determinados tipos de imagens, como cenários naturais, por exemplo, altera o processamento da dor no cérebro, proporcionando alívio real e mensurável”.

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A descoberta “reforça a ideia de que a Natureza vai para lá de um simples ‘placebo'” e que “tem impacto concreto na forma como percebemos e processamos os estímulos dolorosos”. Estudos anteriores sugeriam já que pacientes cirúrgicos “careciam de menos analgésicos quando as janelas dos quartos tinham vista para a Natureza” – e que pacientes submetidos a procedimentos odontológicos “relatavam menos desconforto ao observar imagens naturais”. Estes estudos, contudo, “não determinaram ao certo se a redução da dor era um efeito direto da Natureza ou apenas uma impressão subjetiva”.

Para esclarecer a dúvida, cientistas da Universidade de Viena conduziram uma “experiência inovadora”. Examinaram a atividade do cérebro durante experiências dolorosas. No estudo, 49 participantes foram expostos a diferentes ambientes virtuais enquanto recebiam pequenos choques elétricos na mão, variando entre leves e dolorosos. Os ambientes incluíam um lago rodeado por árvores, um cenário urbano e um espaço interno. Os resultados mostraram que quem observava a paisagem natural relatou “menor intensidade de dor e apresentou atividade reduzida nas regiões cerebrais responsáveis pelo processamento sensorial da dor”.

O estudo confirmou que o efeito analgésico da Natureza “ocorre de forma distinta das dos placebos tradicionais, que afetam por norma a resposta emocional à dor”. A observação de paisagens naturais, por outro lado, “influencia os sinais sensoriais ‘brutos’ da dor logo a partir do estágio inicial, reduzindo-lhe a intensidade”. Isto significa que o alívio da dor proporcionado pela Natureza “não é apenas uma sensação psicológica”; “tem de facto, um efeito fisiológico real” no organismo.

Outro avanço “relevante” é o de que os ambientes urbanos e internos resultaram em “respostas cerebrais e perceções de dor semelhantes” – o que sugere que “o alívio da dor está diretamente ligado à presença de elementos naturais, em vez de apenas uma preferência por paisagens ou ambientes agradáveis”. As descobertas apontam para “novas possibilidades na orientação da dor”, tanto em hospitais como “noutros contextos de Saúde”.

Os hospitais “devem, por isso, incluir elementos naturais nas suas instalações” – como “murais de paisagens ou janelas estrategicamente posicionadas” – para ajudar a “reduzir o desconforto de pacientes durante procedimentos clínicos ou em período de convalescença”. Para indivíduos que sofram de dor crónica, a “exposição regular à Natureza”, através de “caminhadas ao ar livre ou mesmo de experiências virtuais”, pode tornar-se num “complemento valioso aos tratamentos convencionais”.

Os cientistas enfatizam, aliás, que, “embora o efeito da Natureza seja significativo”, representa apenas “aproximadamente metade do efeito dos analgésicos tradicionais”. Portanto, a Natureza “não deve substituir a medicação prescrita”, mas pode ser “utilizada como estratégia complementar” para aumentar o bem-estar e melhorar a qualidade de vida.

Além dos benefícios individuais, os investigadores salientam que a descoberta “reforça a importância da conservação dos ambientes naturais”. “Proteger áreas verdes e incentivar as pessoas a passarem mais tempo na Natureza pode trazer benefícios tanto para a saúde humana como para a sustentabilidade” do Planeta.

“Através de passeios ao ar livre, da criação de espaços verdes urbanos ou da utilização de tecnologia para simular a presença na Natureza, incorporar elementos naturais no dia a dia pode ser uma forma eficaz de aliviar as dores e promover o bem-estar”. A ciência moderna comprova agora o que muitas culturas praticavam intuitivamente – a Natureza tem um “poder terapêutico real e inegável”.

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